Medicamentos para emagrecimento: aliados poderosos ou armadilhas silenciosas?
Semaglutida, liraglutida, tirzepatida, sibutramina. O uso crescente de medicamentos para emagrecimento acende um alerta: a solução rápida pode custar caro quando feita sem critério e sem acompanhamento adequado.
Por Rafaela A. D’Aquino - CRN 16 463
Especialista em Emagrecimento e Metabolismo
O avanço das medicações para obesidade trouxe ferramentas eficazes para o tratamento do excesso de peso, sobretudo nos casos mais complexos e com fatores metabólicos associados. No entanto, o aumento do uso indiscriminado e sem acompanhamento especializado tem feito surgir uma nova preocupação: os efeitos colaterais metabólicos e a baixa sustentabilidade dos resultados quando não há intervenção nutricional adequada.
O que são e como funcionam os medicamentos para emagrecimento?
A nova geração de fármacos para emagrecimento atua, majoritariamente, em receptores que regulam o apetite, a saciedade e, em alguns casos, o metabolismo energético. Os mais buscados atualmente incluem:
Semaglutida (Ozempic, Wegovy)
Liraglutida (Saxenda)
Tirzepatida (Mounjaro)
Sibutramina (Reductil e similares)
A semaglutida, liraglutida e tirzepatida são análogos de GLP-1 e GIP, hormônios intestinais que modulam a saciedade e retardam o esvaziamento gástrico, ajudando o paciente a comer menos. A tirzepatida, por sua vez, tem uma ação adicional: ela aumenta o gasto energético, o que representa uma vantagem adicional em relação às demais. A sibutramina atua sobre neurotransmissores como noradrenalina e serotonina, reduzindo o apetite e aumentando levemente o gasto energético basal.
Em comum, essas medicações permitem que o paciente consiga aderir por mais tempo à restrição calórica, o que se traduz em perda de peso mais rápida.
Medicamentos não são vilões, mas exigem critério
A indicação de medicamentos é, sim, válida em muitos casos, especialmente quando há obesidade grau I com comorbidades, resistência à insulina, síndrome metabólica ou histórico de insucesso com intervenções anteriores. O problema está na banalização do uso, com prescrições sem avaliação criteriosa do histórico clínico, perfil metabólico ou sem qualquer acompanhamento nutricional especializado.
Além disso, o uso isolado da medicação pode causar um comportamento comum: o paciente come menos, mas come mal. Isso leva a um emagrecimento com grande perda de massa muscular, deficiências nutricionais e uma composição corporal desfavorável — o que compromete o metabolismo a médio e longo prazo.
Efeito rebote: culpa do medicamento?
O temido efeito rebote — em que o paciente recupera o peso perdido após a suspensão do medicamento — não é exclusivo dos fármacos. Ele pode ocorrer em qualquer tipo de dieta mal planejada, por meio da chamada termogênese adaptativa, um mecanismo fisiológico em que o corpo reduz o gasto calórico para se proteger da perda de peso.
No entanto, o uso de medicações sem um plano alimentar adequado pode potencializar esse efeito. Após a retirada do remédio, o paciente tende a retomar antigos hábitos, agora com menos massa muscular e um metabolismo mais lento — tornando o novo emagrecimento ainda mais difícil.
Estudos demonstram que, sem o suporte nutricional, pacientes podem apresentar reganho de até 80% do peso perdido após 12 meses da interrupção da medicação (Wilding et al., 2022).
Risco metabólico e dano estrutural
Outro ponto crítico é que o uso indiscriminado de medicamentos, especialmente em doses agressivas sem considerar o percentual de gordura e a reserva muscular do paciente, pode levar a danos metabólicos duradouros. Isso inclui:
Redução da taxa metabólica basal
Perda significativa de massa magra
Efeitos colaterais gastrointestinais persistentes
Desregulação hormonal
E mais: ao contrário da crença popular, essas medicações não causam perda de massa muscular por si só. A perda ocorre quando há uma dieta extremamente restritiva associada a doses elevadas e ausência de planejamento alimentar e treino de força.
Conclusão: medicamento não substitui estratégia
Os medicamentos podem ser aliados importantes no tratamento da obesidade, mas não substituem um plano alimentar estratégico, nem resolvem os fatores comportamentais envolvidos no ganho de peso.
A diferença entre um medicamento que promove saúde e um que gera prejuízo está na indicação, no acompanhamento e na condução do processo. Sem isso, o paciente tende a obter um resultado rápido, mas insustentável — e que pode se transformar em um ciclo difícil de reverter.
Referência científica
Wilding, J.P.H. et al. (2022). Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. New England Journal of Medicine, 384(11), 989-1002.