Dieta do HCG: promessa de emagrecimento rápido ou risco disfarçado?

Protocolos com o hormônio da gravidez surgem como solução para perda de peso, mas evidências mostram falta de eficácia e potenciais perigos à saúde.

Por Rafaela A. D’Aquino - CRN 16 463
Especialista em Emagrecimento Metabólico

A busca por soluções rápidas para o emagrecimento tem impulsionado estratégias extremas, e entre elas, a dieta do HCG ressurge como tendência em alguns círculos. A prática envolve a aplicação do hormônio gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG) combinada a uma dieta de apenas 500 calorias por dia. Apesar do apelo midiático e da promessa de rápida perda de peso, essa abordagem se mostra ineficaz à luz da ciência e pode trazer riscos significativos.

O que é o HCG?

O hormônio HCG é conhecido por ser o marcador utilizado em testes de gravidez, por ser liberado em grandes quantidades durante a formação da placenta. Em pequenas quantidades, também pode ser produzido pelos ovários, testículos e pela glândula pituitária. Por mimetizar a ação do LH (hormônio luteinizante), o HCG estimula a produção de hormônios sexuais, como a testosterona.

Essa ação hormonal foi o que levou o endocrinologista britânico Dr. Albert T. W. Simeons a desenvolver, em 1954, um protocolo que associava injeções diárias de HCG a uma dieta extremamente hipocalórica. Ele observava que, ao administrar HCG em homens com testículos não descidos, havia liberação de testosterona e, aparentemente, redução de gordura corporal. A partir disso, elaborou uma estratégia que, segundo ele, resultava em perda de 9 a 13 kg em 40 dias.

Fundamentos e promessas da dieta

A dieta proposta por Simeons envolvia:

  • Administração diária de HCG via injeção

  • Restrição calórica severa (500 kcal/dia)

  • Suposto aumento da saciedade, manutenção da massa muscular e adesão facilitada

Na teoria, o hormônio atuaria como “facilitador” do processo de emagrecimento, preservando a massa magra e reduzindo o apetite em um cenário de extrema restrição energética.

Evidências científicas: placebo e ineficácia

Diversos estudos conduzidos nas décadas seguintes testaram os efeitos da dieta do HCG com rigor metodológico. Os resultados foram consistentes: não houve diferença significativa na perda de peso entre indivíduos que usaram o HCG e aqueles que receberam placebo, mesmo sob a mesma restrição calórica.

Uma das revisões mais citadas, publicada no British Journal of Clinical Pharmacology (Lijesen et al., 1995), concluiu que o HCG não tem eficácia comprovada na redução de gordura corporal, nem atua sobre a fome ou a composição corporal de forma significativa.

Efeitos adversos e riscos à saúde

O maior problema da dieta do HCG reside nos riscos associados ao seu protocolo. Entre os efeitos colaterais mais reportados estão:

  • Deficiências nutricionais graves

  • Fadiga e fraqueza muscular

  • Redução da taxa metabólica basal

  • Perda de massa magra

  • Alterações hormonais indesejadas

Além disso, a restrição energética extrema pode provocar impactos negativos sobre o humor, a imunidade e a saúde mental. A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos emitiu alerta formal contra produtos que contenham HCG para emagrecimento, classificando sua comercialização como não autorizada.

A ilusão da solução hormonal

O retorno da dieta do HCG ao debate popular mostra o quanto estratégias extremas ainda seduzem uma população cansada de dietas tradicionais e frustrada com os resultados lentos. No entanto, a ciência é clara: não há evidências de que o HCG promova perda de peso significativa ou sustentável, e os riscos à saúde são reais.

Conclusão

Baseada nas evidências disponíveis, a dieta do HCG é uma estratégia sem respaldo científico que expõe o paciente a riscos fisiológicos e psicológicos. Em vez de promover saúde, essa abordagem cria um ciclo de restrição, exaustão e frustração.

O caminho para o emagrecimento saudável deve ser construído com segurança, individualização e acompanhamento profissional. Soluções milagrosas, especialmente aquelas que envolvem manipulação hormonal sem indicação médica precisa, devem ser tratadas com cautela — e, acima de tudo, com responsabilidade.

Referência científica

  • Lijesen, G.K., Theeuwen, J.L., Assendelft, W.J., van der Wal, G., & Ferrier, B.M. (1995). The effect of human chorionic gonadotrophin (HCG) in the treatment of obesity by means of the Simeons therapy: a criteria-based meta-analysis. British Journal of Clinical Pharmacology, 40(3), 237–243.

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